terça-feira, 2 de abril de 2013

Energia (da boa)

Quando investimos tantos anos da nossa vida, tanto dinheiro, horas de sono, stress e energia numa licenciatura em arquitectura, o mais natural é querermos continuar o investimento e lutar pela carreira.
Foi o que eu fiz. Pelo menos até há pouco tempo. Não me posso queixar de falta de trabalho ao longo do meu trajecto. Sempre me ocupei, num ou noutro ramo da arquitectura. Aliás, acho que esta formação prepara-nos para mais do que fazer projectos. Além da diversidade de temas abordados, a estratégica pedagógica usada, bem ou mal, dá-nos jogo de cintura, faz com que criemos calo na nossa auto-estima. "Desistir" é palavra proibida.
Foram estas as premissas que me guiaram ao longo destes anos no meu percurso profissional. Mas posso dizer que durante muito tempo tive que abdicar de um horário de trabalho racional, de sair com os meus amigos ou estar com a família em todas as ocasiões importantes. As directas que fazia na faculdade continuaram a repetir-se e era muito frequente chegar ao final do dia e voltar a ligar o portátil para pegar de novo no trabalho que tinha que ser terminado até ao dia seguinte. O que me valia é que eu gostava. Era um desafio. O único. E a coisa dava-se. Uma jovem arquitecta, a trabalhar por conta própria, com trabalho suficiente para si e para outros, numa época em que a crise que hoje está na boca do mundo já dava largos passos, nada mau. Mas à custa de muito, muito trabalho, muito stress e ansiedade. E pouco sobrava de mim.
Até que conheci o Z, que me ajudou a voltar a ver para além da vida (quase exclusiva) de trabalho que eu levava. Comecei a dedicar mais tempo ao namorado, aos amigos e à família, delegando trabalho cada vez mais. A ideia de família nuclear foi crescendo e concretizou-se em 2010 com uma gravidez planeada, da qual nasceu o D. E foi aí que se deu o clic. Entre outra descobertas, apercebi-me que queria levar uma vida dita "normal", com horários humanamente viáveis para acompanhar a educação de um filho. Engraçado, como a maternidade nos transforma. Nessa altura, comecei a lembrar-me com saudade de coisas de que gostava quando era miúda, os meus desenhos, os meus "crafts", as comidinhas boas que se faziam na casa dos avós e dos pais, as tardes de inverno em que eu aprendia o tricot da avó e o crochet da tia, o presépio enorme que se fazia no Natal  - coisas que se faziam em família. Tomei consciência da importância de reaprender conceitos como estes e de os passar aos meus filhos.
Entretanto, assistimos ao adensar da malograda crise e aos telejornais que nos bombardeiam com notícias de mais impostos, o desemprego a aumentar, etc, etc, e eu a mudar de canal porque basta ouvir uma vez (sim, é horrível o que nos estão a fazer, mas afundar-me no desespero e tender a desistir? Nem pensar)
Ao mesmo tempo, comecei a ficar atenta a projectos de portugueses a quem a crise não assusta. Tenho encontrado muitos nas redes sociais, andando nas ruas de Lisboa, navegando na blogosfera, vendo as notícias positivas acerca do que cá se passa. Projectos e negócios novos, ou outros que me emocionam pela nostalgia de tempos antigos. Ideias genuínas que são postas em prática artesanal ou industrialmente, todas elas carismáticas, com design cuidado e com a marca do nosso Portugal. E foco-me naquelas com as quais me identifico.
Neste percurso, tenho encontrado pessoas e negócios verdadeiramente inspiradores. Tem sido uma pesquisa quase diária, uma descoberta que me emociona e apaixona.
Agora tenho o 2º filho quase a nascer. Cada vez mais, quero rodear-me do que gosto, do que me faz bem. Para estar bem para eles. Realizei que tenho que me emocionar com o que faço.
E por isso, quero que esta emoção continue presente nos meus dias. Por isso estou a criar este blog, que serve para registar o que vou descobrindo, pensando e fazendo, seja lá o que isso for, mas sempre com a (boa) energia que deixo entrar na minha vida.
E, dos tempos de faculdade, ficou a premissa: "desistir" continua a ser palavra proibida.
 

Sem comentários: