quinta-feira, 4 de abril de 2013

Dona Loya e o Fimo Amestrado








Quando era miúda adorava dedicar-me aos handicrafts. "Punha as mãos na massa", sem medos.
Com 7 anos, montava uma banquinha na praia (uma toalha estendida no muro) e punha-me ali de plantão com as minhas amigas e a minha irmã a vender as pulseiras de nós feitas com fio de bordar e pedras da praia pintadas com canetas de feltro. Eu, como era a mais velha, fazia umas coisas mais ou menos perfeitas. A minha irmã fazia uns rabiscos e umas pulseiras todas tortas mas a que toda a ...gente achava imensa piada. O facto de ser uma menina de 4 anos com ar de bebé, loirinha de olho azul e toda pespineta, que já sabia apregoar as suas artes, fazia com que se vendessem muito melhor os artigos "pedras com rabiscos" e pulseiras "freeform" que ela fazia, do que os meus trabalhos perfeitinhos.

Já andava eu na faculdade quando me dediquei a fazer bijutarias em Fimo (uma massa de modelar que endurece no forno). Aquilo foi um sucesso (no meu universo). Cheguei a vender brincos, anéis e colares aos amigos, conhecidos e familiares. Fiz uns trocos mesmo, porque uma querida amiga levava as bijutarias para o trabalho e vendia aquilo tudo às colegas. Eu fiquei radiante. É claro que nada daquilo teve continuidade, seja porque eu não tinha mãozinhas para a coisa, ou porque tinha que me dedicar às maquetes e aos trabalhos da faculdade...
Esta conversa toda para introduzir a primeira parceria que vou mostrar aqui: a Teresa, que trabalha o Fimo como eu nunca vi. Trata-se de um trabalho totalmente manual, profundamente minucioso. A combinação das cores – e que cores lindas!!! - as formas, a microescala, são qualquer coisa de fabuloso.

Começou a fazer artesanato aos 13 anos de idade - uma linha de bijutaria cerâmica pintada com tinta acrílica depois de cozida. Os estudos, conduzidos sempre na área das artes, foram até ao ensino superior na licenciatura em Design de Equipamento, que acabou por não concluir. Da faculdade, marcou-a o estímulo de um professor que ficou impressionado quando a Teresa, num trabalho académico sobre a técnica de Millefiori de Murano, resolveu aplicá-la ao Fimo…. E nunca mais parou.
O que mais a fascina neste trabalho é a parte de criação e construção de novos padrões - "são verdadeiros puzzles tridimensionais, totalmente viciantes!"
Durante uma feira em que participava, foi abordada por uma colega da faculdade que a "obrigou" a avançar para uma identidade corporativa. Para sua surpresa, foi sugerido o seu nome de casada - Loya - por ser o mais "catchy". E por se ter apercebido da dedicação e destreza da Teresa na arte de "Fimar", nasceu o nome "Dona Loya e o Fimo Amestrado".
Pedi à Teresa que me relatasse um episódio marcante neste seu percurso. Contou-me que uma vez, um cliente de 8 anos quis oferecer à irmã de 5 um alfinete “Matrioshka” (que é uma peça muito trabalhosa e das mais caras). O problema é que pretendia pagar um décimo do seu valor. A Teresa aceitou o pagamento inferior mas, por pedagogia, para que o miúdo se apercebesse do justo valor das coisas, combinou com ele que a iria ajudar a desmontar a banca no dia seguinte em jeito de pagamento. E ficou comovida quando ele apareceu prontinho para a ajudar. Não estava à espera que ele levasse a sério o prometido.

Podemos encontrar os artigos da Teresa em lojas (Piolho Eléctrico, Maria AmoraI Love Kutchi em Barcelona), tem feito algumas feiras (Coolares Market, Maia) mas o seu grande foco é a venda online - para já materializados na sua página de Facebook, Blog e Flickr.
O futuro da Dona Loya e o Fimo Amestrado prende-se com o imediato e  com o lado criativo da actividade. A grande vontade da Teresa é sempre a de experimentar determinada técnica, criar novo padrão, ou procurar novas fontes de inspiração. Por outro lado, tem a consciência da necessidade de se dedicar a coisas "chatas" tais como  as formas de produção que aumentam a produtividade, novos canais de venda quando os actuais se mostram insuficientes, maior disciplina no trabalho, horários mais regulares, etc. Um grande objectivo para um futuro próximo - a criação de uma loja online.
Parece que costuma dar (ou deu) workshops desta técnica. Quem me dera um dia saber trabalhar assim o Fimo… se ainda fizer workshops, já tem aqui uma candidata ;) Se não fizer, já tenho uma encomenda em mente para lhe fazer.

Sem comentários: